O PALHAÇO ESTÁ SÓ
Não é o primeiro show em que isso acontece. A música acaba, o show termina, os aplausos silenciam e ali está ele. Cansado e sozinho. Sozinho. Vendo a todos os outros com suas companhias - amigos, colegas, namoradas, e ele sozinho. Doi, doi muito. Doi porque quando ele casou, a última coisa que ele achava que sentiria era essa solidão, era essa tristeza.
Doi sobretudo pelo fato de todos esforços feitos para acompanhar sua amada a shows que ela queria, que ela gostava, e aquele ali era apenas mais um show em que ela o deixava só. Desde um telefonema choroso por não se sentir bem com roupa alguma, passando pelo momento em que "veria se tivesse clima" para ir a outro show até apenas um seco e desgostoso "não" a mais um convite para vê-lo cantando.
Talvez ela não lembre que quando ele canta, ela canta pra ela, como tem feito desde há muito tempo...
Ela não lembra, ele nunca esquece. Tão triste ver as pessoas felizes e bem acompanhadas e ele ali, com sua mochila, contando os minutos para poder estar em casa. Sozinho.
As coisas não andam lá essas coisas, é verdade. Mas ninguém merece estar sozinho daquela forma, como se fosse parte apenas da mobília, do cenário, vendo as pessoas e os sorrisos passando enquanto engole a tristeza e o choro.
Tudo que ele queria naquele momento era um forte abraço, um elogio, um toque ou até mesmo uma crítica dela, mas que fosse dita ao vivo, segurando sua mão. Ele queria uma esposa, uma companheira ali. Ele tinha casado para acompanhar e ser acompanhado, para dar carinho e também recebê-lo, para amar e ser amado. Mas ali estava ele: com seu chapéu, agarrado à sua mochila e sozinho. Sozinho.